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De pedagogias alternativas para o senso comum

– “Os meus parabéns”, disse-me o senhor ao longe, já com alguma idade, ao ver o meu filho a sair do carro.
– “Obrigado”, retorqui, sem saber bem o porquê de tal agradecimento.
O vento não deixou ouvir muito mais, e a tarde escura de inverno começava a aparecer.

Na nossa antiga casa, morávamos numa zona com uma elevada densidade populacional, que não nos deixava conhecer os nossos vizinhos.
Todas as pessoas eram perfeitas desconhecidas, que apenas conhecíamos de vista.
É um dos males deste tipo de zonas, em que a facilidade de chegar a qualquer lado, e com o comércio ao pé é uma benesse. Mas depois tem o reverso da medalha de não conhecermos as pessoas.
E com as máscaras (devido à pandemia) vem piorar um pouco a situação.

 

Foi um dos pontos que nos fez querer mudar o rumo da nossa vida pessoal.

Sim, podemos mudar o rumo dos acontecimentos e a forma como nos impacta.
Basta querermos.

O Rui (soube mais tarde o seu nome) é um senhor muito simpático e com um enorme gosto em aprender e em trasmitir os seus conhecimentos acumulados durante os seus longos anos de vida.
Sempre nos cumprimentou de forma entusiasta (e sempre com algum conhecimento para transmitir) desde o primeiro momento em que chegámos ao prédio, até ao último dia da nossa saída.

– “Os meus parabéns por ter esperado que o seu filho decidisse sair do carro”, disse-me ele, noutro dia.
Fiquei um pouco sem palavras, porque para mim, é algo perfeitamente normal e que pratico (ou tento) todos os dias.
– “Se fosse outra pessoa, não tinha esperado, e tinha-o puxado para fora do carro, a apressá-lo. Mas reparei que teve muita paciência e esperou que ele saísse do carro, sem apressá-lo. Os meus parabéns!”, referiu.
– “Obrigado, mas para mim não faz sentido ser de outra forma. Temos que respeitá-los e dar-lhes tempo”, disse eu.
E de facto assim é.
Não é fácil, especialmente quando estamos com pressa, mas temos que o fazer.
Palavra puxa palavra, falei em vários métodos pedagógicos de ensino que respeitam o ritmo de desenvolvimento de cada criança e que proporcionam as condições para que a sua autonomia floresça de uma forma natural: Montessori, Waldorf, etc.
O senhor ouviu muito atentamente e ficou muito intrigado e admirado (pois nunca tinha ouvido falar destes nomes), e ao mesmo tempo maravilhado porque ele próprio também acredita nos fundamentos destes métodos de ensino.
E, para ele, era espectacular conhecer alguém jovem com esses princípios.
Apontou na sua folha de papel o nome de Maria Montessori, agradeceu (como sempre) com um sorriso e um “Prazer”, e foi-se embora.

No outro dia, encontrou-me na rua a fazer mudanças, e veio logo abordar o tema Montessori: fez a sua pesquisa e chegou à conclusão que foi uma grande senhora, que fez um grande feito para a sua época.

E claro, estivemos a trocar mais algumas ideias, e ele sempre fascinado.

E o mesmo cenário repetiu-se nos vários dias seguintes.
Muitas vezes, estava eu com alguma pressa (mea culpa, mas quando estamos a fazer mudanças o tempo é precioso), e ao mesmo tempo que estava a colocar coisas no carro por uma das portas laterais, o senhor “enfiava-se” pelo porta-bagagens (só faltou entrar mesmo dentro do carro) e mostrava-me um livro sobre Maria Montessori, ou uma passagem nalguma revista em que falava do seu nome, etc.
Nem dava conta, porque estava a falar de algo que o fascinava, e sempre ansioso por aprender algo mais.
Eram situações caricatas, confesso, e engraçadas.

Algumas vezes até foi bater à porta do nosso apartamento para falar um pouco.

“Os senhores vão fazer aqui muita falta”, disse ele, em tom de tristeza.
Que maneira simpática de dizer que gostaria que ficássemos.
Quantas vezes ouvimos alguém dizer isto?
Muitas vezes dizem “Boa sorte”, ou “Felicidades”.
Mas muito raramento se ouvem frases deste género.
E são estas atitudes que cativam.

É o típico senhor que toca à nossa porta para avisar que deixámos a luz exterior acesa, ou que repara que temos as mãos ocupadas e que chama o elevador por nós (sem vermos), antes de entrar em casa.

E, nos últimos dias, acabou por pedir o meu contacto telefónico, para quem sabe, um dia, falarmos um pouco mais sobre “estas coisas” de ser criança num mundo de adultos.

Este tipo de conversas não deveriam acontecer, pelo simples facto de que deveriam ser do senso comum.
Estas atitudes deveriam fazer parte do nosso quotidiano.
Todo este núcleo que é intrínseco a cada método pedagógico ou abordagem (no fundo, respeitar a criança e deixá-la apenas ser), deveria fazer parte de cada adulto.
Estes métodos/abordagens deveriam estar tão disseminados que já não seria estranho falar deles.
É para aí que temos que caminhar.
É um longo caminho, mas a viagem já começou.

Obrigado, Rui, por estes momentos de aprendizagem.

Um bom ano!

 

 

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