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De pedagogias alternativas para o senso comum

– “Os meus parabéns”, disse-me o senhor ao longe, já com alguma idade, ao ver o meu filho a sair do carro.
– “Obrigado”, retorqui, sem saber bem o porquê de tal agradecimento.
O vento não deixou ouvir muito mais, e a tarde escura de inverno começava a aparecer.

Na nossa antiga casa, morávamos numa zona com uma elevada densidade populacional, que não nos deixava conhecer os nossos vizinhos.
Todas as pessoas eram perfeitas desconhecidas, que apenas conhecíamos de vista.
É um dos males deste tipo de zonas, em que a facilidade de chegar a qualquer lado, e com o comércio ao pé é uma benesse. Mas depois tem o reverso da medalha de não conhecermos as pessoas.
E com as máscaras (devido à pandemia) vem piorar um pouco a situação.

 

Foi um dos pontos que nos fez querer mudar o rumo da nossa vida pessoal.

Sim, podemos mudar o rumo dos acontecimentos e a forma como nos impacta.
Basta querermos.

O Rui (soube mais tarde o seu nome) é um senhor muito simpático e com um enorme gosto em aprender e em trasmitir os seus conhecimentos acumulados durante os seus longos anos de vida.
Sempre nos cumprimentou de forma entusiasta (e sempre com algum conhecimento para transmitir) desde o primeiro momento em que chegámos ao prédio, até ao último dia da nossa saída.

– “Os meus parabéns por ter esperado que o seu filho decidisse sair do carro”, disse-me ele, noutro dia.
Fiquei um pouco sem palavras, porque para mim, é algo perfeitamente normal e que pratico (ou tento) todos os dias.
– “Se fosse outra pessoa, não tinha esperado, e tinha-o puxado para fora do carro, a apressá-lo. Mas reparei que teve muita paciência e esperou que ele saísse do carro, sem apressá-lo. Os meus parabéns!”, referiu.
– “Obrigado, mas para mim não faz sentido ser de outra forma. Temos que respeitá-los e dar-lhes tempo”, disse eu.
E de facto assim é.
Não é fácil, especialmente quando estamos com pressa, mas temos que o fazer.
Palavra puxa palavra, falei em vários métodos pedagógicos de ensino que respeitam o ritmo de desenvolvimento de cada criança e que proporcionam as condições para que a sua autonomia floresça de uma forma natural: Montessori, Waldorf, etc.
O senhor ouviu muito atentamente e ficou muito intrigado e admirado (pois nunca tinha ouvido falar destes nomes), e ao mesmo tempo maravilhado porque ele próprio também acredita nos fundamentos destes métodos de ensino.
E, para ele, era espectacular conhecer alguém jovem com esses princípios.
Apontou na sua folha de papel o nome de Maria Montessori, agradeceu (como sempre) com um sorriso e um “Prazer”, e foi-se embora.

No outro dia, encontrou-me na rua a fazer mudanças, e veio logo abordar o tema Montessori: fez a sua pesquisa e chegou à conclusão que foi uma grande senhora, que fez um grande feito para a sua época.

E claro, estivemos a trocar mais algumas ideias, e ele sempre fascinado.

E o mesmo cenário repetiu-se nos vários dias seguintes.
Muitas vezes, estava eu com alguma pressa (mea culpa, mas quando estamos a fazer mudanças o tempo é precioso), e ao mesmo tempo que estava a colocar coisas no carro por uma das portas laterais, o senhor “enfiava-se” pelo porta-bagagens (só faltou entrar mesmo dentro do carro) e mostrava-me um livro sobre Maria Montessori, ou uma passagem nalguma revista em que falava do seu nome, etc.
Nem dava conta, porque estava a falar de algo que o fascinava, e sempre ansioso por aprender algo mais.
Eram situações caricatas, confesso, e engraçadas.

Algumas vezes até foi bater à porta do nosso apartamento para falar um pouco.

“Os senhores vão fazer aqui muita falta”, disse ele, em tom de tristeza.
Que maneira simpática de dizer que gostaria que ficássemos.
Quantas vezes ouvimos alguém dizer isto?
Muitas vezes dizem “Boa sorte”, ou “Felicidades”.
Mas muito raramento se ouvem frases deste género.
E são estas atitudes que cativam.

É o típico senhor que toca à nossa porta para avisar que deixámos a luz exterior acesa, ou que repara que temos as mãos ocupadas e que chama o elevador por nós (sem vermos), antes de entrar em casa.

E, nos últimos dias, acabou por pedir o meu contacto telefónico, para quem sabe, um dia, falarmos um pouco mais sobre “estas coisas” de ser criança num mundo de adultos.

Este tipo de conversas não deveriam acontecer, pelo simples facto de que deveriam ser do senso comum.
Estas atitudes deveriam fazer parte do nosso quotidiano.
Todo este núcleo que é intrínseco a cada método pedagógico ou abordagem (no fundo, respeitar a criança e deixá-la apenas ser), deveria fazer parte de cada adulto.
Estes métodos/abordagens deveriam estar tão disseminados que já não seria estranho falar deles.
É para aí que temos que caminhar.
É um longo caminho, mas a viagem já começou.

Obrigado, Rui, por estes momentos de aprendizagem.

Um bom ano!

 

 

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Não interessa o que fazes, mas como fazes

“Não interessa o que fazes, mas como fazes”.

Não sou o autor desta frase, mas identifico-me muito com ela.

Por outras palavras, não interessa o fim propriamente dito, mas sim o caminho percorrido até chegar lá.

No meu caso, todo o carinho, todo o amor, toda a experiência que tenho são colocados em prática quando faço uma peça em madeira.

Desde o momento da compra da madeira no seu estado bruto, até à fase final do acabamento, em que é necessário respeitar o meio-ambiente e a saúde das nossas crianças.

 

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Seja para o meu filho, seja para a casa, seja para outra pessoa (que posso ou não conhecer pessoalmente), não existe distinção.

A qualidade final do trabalho é a mesma.

Não estou só focado no resultado final, como em todo o processo de execução.

Existe qualquer coisa de mágico no processo de ir à serração comprar a madeira no seu estado bruto, e contemplar a sua transformação, à medida que vou trabalhando nela.

Grandes riquezas emergem à medida que se vai aplainando a madeira… a sua textura começa a ganhar vida, qual D. Sebastião que reaparece no meio do nevoeiro… cheiros harmoniosos pairam no ar…

Visualizo a peça final, já terminada, e as minhas mãos encarregam-se de transformar a minha visão em realidade.

Se já existe na minha mente, é porque é real e exequível.

O trabalhar com ferramentas manuais é um factor predominante na minha forma de trabalhar, é onde me sinto mais à vontade.

 

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E, para mim, não é só o produto final tem que corresponder ao rigor e empenho colocados. O tipo de acabamento utilizado tem que respeitar o meio-ambiente e as normas de segurança em vigor.

Não basta apenas garantir que as superfícies fiquem bem lisas e suaves ao toque, com as arestas arredondadas, para não ferir as mãos.

Sabes, seria muito fácil não me importar com esta parte da finalização.

Mas não conseguiria ficar bem comigo próprio, sabendo que existem dois caminhos a seguir, e que teria optado pela via menos ética.

A via mais fácil e mais rápida nem sempre é a melhor.

Na minha área de actividade, confesso que, por exemplo, seria muito fácil utilizar um óleo, verniz ou tinta que não respeitasse o meio-ambiente e a Norma Europeia de Segurança de Brinquedos EN 71-3.

E argumentar o contrário.

 

Não interessa o que fazes

 

 

É que não é muito fácil explicar os cuidados necessários na escolha de um acabamento certificado.

 

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A EN 71, é a norma que define os requisitos de segurança para todos os brinquedos vendidos na União Europeia.

É dividida em 13 partes, sendo que a parte 3 é a que define a especificação para a migração de certos elementos.

O que quer isto dizer?

Existem elementos que estão presentes em muitos produtos e que são tóxicos, se os valores excederem os permitidos por lei.

Elementos tais como níquel, crómio, cádmio, arsénico, cobre, chumbo, alumínio, mercúrio, etc, são apenas alguns que se podem encontrar em brinquedos, por exemplo.

A EN 71-3 regulamenta e controla qual a quantidade máxima que pode existir em cada elemento, e que possa apresentar risco de toxicidade para as crianças.

Não basta apenas que tenha o rótulo de “ecológico” ou “amigo do ambiente”.

É algo que parece banal, à primeira vista, mas que convém analisar pormenorizadamente para que as suas vantagens fiquem bem claras.

 

O cuidado com os acabamentos utilizados é muito importante, porque estamos a zelar:

  • Pela saúde em geral, e principalmente pela saúde dos bebés e crianças;
  • Pelo respeito com o meio-ambiente;
  • Pela conservação da madeira.

 

A madeira pode resistir durante muito tempo, sem ser necessário nenhum tipo de acabamento.

Mas dura muito mais se for protegida.

E, no caso dos mordedores de madeira para bebés, por exemplo, é importante também por causa da saliva dos bebés, que por vezes pode ser um pouco ácida.

A madeira, em termos genéricos, tem o que se chama “pêlo”, que não são mais do que as fibras da madeira. Diz-se que a madeira tem o pêlo levantado quando existe o eriçar das pequenas fibras da madeira que se encontram à superfície.

Isto acontece especialmente no contacto com água ou com outro tipo de líquidos.

Líquidos mais difíceis de limpar que a água (mais gordurosos, por exemplo), podem inclusive danificar a madeira não tratada com o passar do tempo, podendo deixar manchas.

A limpeza de uma madeira tratada torna-se muito mais fácil de fazer com um pano macio, ao invés da madeira sem nenhum tratamento, em que agarra muito mais pó e sujidade.

Indo um pouco mais além, diria mesmo que as instituições mais antigas, bem como as mais recentes (e até as que vão começar), deveriam fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para terem mobiliário e materiais de madeira que respeitassem os pontos acima referidos.

Até o cuidado com a pintura das paredes deveria ser respeitado ao máximo.

Especialmente nos berçários, já que os bebés têm o sistema imunitário menos desenvolvido e são mais frágeis e susceptíveis a problemas respiratórios, entre outros.

 

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Como poderia eu ficar indiferente, sabendo que nem todos têm conhecimento desta informação?

E é com uma enorme alegria e satisfação, que vejo uma crescente preocupação e empenho de outros fornecedores (e revendedores) de mobiliário e materiais pedagógicos, em garantir uma melhor qualidade do produto final.

Porquê?

Porque, por motivos óbvios, todos temos a beneficiar com esta tomada de consciência. Mas é a nova geração, a geração dos nossos bebés, que mais vai beneficiar.

 

Obrigado pela tua presença.

 

 

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A confiança é nutrida com o amor

Depois de nascer, qualquer bebé necessita de sentir que o mundo ao qual acabou de chegar é seguro. Nos primeiros tempos de vida, não necessita mais do que comida, o amor e a confiança dos seus cuidadores.

É desta forma que se vai gerar a autoconfiança tão necessária para enfrentar os desafios a que se propôs, ser quem tem que ser e fazer o que mais gosta.

Crianças emocionalmente saudáveis tornam-se adultos seguros e confiantes.

O L não é excepção, e está a passar por uma fase em que necessita de sentir que tem o amor dos pais e que tem um porto de abrigo à sua espera.

A mudança de escolinha implicou largar um passado de caras conhecidas, para começar tudo de novo e voltar a sentir a confiança de novas pessoas e fazer novos amigos.

Devido a uma formação muito importante que a minha menina foi fazer, confesso que nas últimas semanas senti-me um pouco como um papá Uber, a levá-los cada um para a sua escolinha. Mas quem corre por gosta não se cansa, e é um privilégio poder assistir ao crescimento interior de cada um deles, apoiando-os no que for preciso.

Não foi fácil, claro está. Implica abdicar de muita coisa, mas é algo que se assume fazer quando se está empenhado em ajudar.

A adaptação do L à nova escolinha durou pouco mais de uma semana.

Foi o tempo necessário para o meu bebé habituar-se a novas rotinas, novas pessoas, novos lugares.

Muito tempo?

Pouco tempo?

Confesso que pensei que demorasse menos tempo, mas demorou o tempo que teve que ser. Nem mais nem menos.

Cada criança tem a sua própria personalidade e os seus medos, e por isso não há uma fórmula mágica que funcione para todos.

Paciência e confiar.

Confiar que estamos a fazer o melhor e que é uma nova etapa que os nossos filhos vão ultrapassar. O crescimento é isso mesmo, sair da nossa zona de conforto e enfrentar os nossos medos. Só assim evoluímos e adquirimos novas competências, novos conhecimentos.

 

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Durante este período fiquei com ele o tempo que foi preciso para que ele se começasse a sentir em casa e a ganhar confiança com as novas pessoas.

A última coisa que não queria que acontecesse era que ele se sentisse abandonado, sem estar adaptado. Com isso vem frustração, raiva, e choro. Muito choro. Parte-me o coração ver outros meninos a chorarem durante vários dias a chamarem pelos pais…

Com este período de adaptação evitei ao máximo que isso acontecesse, e sinto-me bem por saber que estou a dar o meu melhor para que seja o mais fluída possível.

 

amor confiança

 

Confesso que sinto-me um privilegiado por poder dar o meu tempo para que ele se sentisse bem no novo espaço.

 

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O bem mais precioso que podemos dar é o nosso tempo.

O L é um menino que entende tudo o que nós dizemos, e aos poucos fomos falando com ele sobre o novo espaço. Foi conhecendo as novas pessoas e fazendo novas amizades.

Mas não é fácil.

Vir de um período de férias com rotinas feitas e entrar numa nova escolinha não é fácil.

Quantos de nós, adultos, ficam esmorecidos no último dia de férias, sabendo que vamos voltar ao trabalho (nem sempre desejado)? Pior ainda quando mudamos de local de trabalho, a pressão aumenta. Agora imaginem isso tudo junto, com medos e inseguranças à mistura, multiplicado por 100 na mente de um bebé.

Desde sempre que o L sabe que é amado e que os pais estarão ao pé dele para o que for preciso.

Sabe que vamos sempre voltar para buscá-lo.

No meio deste regresso à rotina, os educadores e auxiliares têm um papel fundamental ao garantir que a transição seja o menos traumática possível.

A todos vós, educadores e auxiliares, o meu profundo agradecimento por todo o apoio que dão aos bebés e crianças que estão sob a vossa alçada.

Não deve ser fácil garantir que todos fiquem bem. Por vezes dois braços não chegam para acudir o choro de muitos.

É algo que só faz quem realmente gosta, disso tenho a certeza.

Confiar.

Confiar que os nossos bebés ficam bem.

É um crescimento, não só para eles, mas também para nós, pais.

 

Obrigado pela tua presença.

 

 

 

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O Respeito deve estar sempre presente

A superação dos medos e as primeiras conquistas não são fáceis. Implica respeito pelo desconhecido, quase como se fosse um salto de fé nesta transição.

Muitas vezes somos “empurrados” pela vida para enfrentar os nossos medos, só assim conseguimos evoluir.

Sair da nossa zona de conforto não é fácil.

Somos um animal de hábitos, e tornamo-nos avessos a tudo o que nos faça sair da nossa rotina. É quase considerado como se fosse uma ameaça à nossa sobrevivência, e como tal é colocada de parte.

Até um dia em que não pode ser mais ignorada.

Não é fácil para nós, adultos, e muito menos deverá ser para as crianças.

Medos inexplicáveis nesta vida, poderão fazer parte de traumas vividos num passado distante.

Ou poderão simplesmente serem “manias” infundadas.

O L não é excepção, e, tal como todas as outras crianças, tem os seus medos, que vai vencendo a pouco e pouco. As suas pequenas conquistas vão-lhe dando mais confiança e autonomia para que ele se possa tornar na pessoa que precisa ser.

A sua última conquista foi ultrapassar o medo de andar de elevador.

Muitos de nós, adultos, também temos esse medo.

 

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O que é perfeitamente normal, pois nem todos gostamos de estar fechados numa caixa, mesmo que tenha algum espaço.

Breves segundos podem tornar-se longas horas, que nunca mais teimam em passar.

Sempre respeitámos a sua decisão de querer subir e descer pelas escadas, embora lhe tenhamos colocado sempre duas opções: ou pelas escadas ou pelo elevador. Assim como quem não quer a coisa, podia ser que um dia ele optasse pelo elevador…

Nunca lhe impusemos nada.

Aliás, como em tudo na sua fase de crescimento.

Claro que custa subir vários andares pela escada, quando temos o elevador mesmo ao nosso lado à nossa espera…

Certo dia até dissemos que os pais iriam de elevador e ele iria de escadas sozinho, para ver qual a sua reacção. Não se fez rogado e não é que subiu os vários andares de escadas sozinho?! Enquanto a mãe foi no elevador, eu subi atrás dele, às escondidas, só para ver se ele realmente subia tudo sozinho, ou se iria parar a meio. E de facto subiu, inclusive a cantarolar!..

Todos os dias lhe perguntávamos se queria ir de escadas ou de elevador.

Todos os dias dizia que preferia as escadas.

Mas houve um certo dia, em que, agarrado ao seu peluche preferido, disse que queria ir de elevador!

Até antes de lhe termos perguntado alguma coisa.

Qual o motivo? Não sabemos, mas percebemos que estava preparado para assumir o novo desafio.

Claro, vai sempre ao colo de um de nós.

E se antigamente nem sequer queria carregar no botão para chamar o elevador, agora até interage e faz questão de carregar nos botões.

E os pais agradecem.

O que me leva a outro ponto, que é o respeito pelo seu ritmo de desenvolvimento.

Na sociedade actual, vivemos um período de consumismo frenético.

Temos o mundo na ponta dos dedos, onde podemos consultar no telemóvel qualquer tipo de informação, a qualquer hora.

Habituados que estamos a querer tudo no imediato, transmitimos esse estado de ser para os nossos filhos, inconscientemente ou não.

Gritar no trânsito para os carros que não andam, despachar rápido de manhã para não chegar tarde, tomar banho rápido para jantar rápido, etc…

Desde a mais tenra idade que os nossos filhos observam a nossa forma estar perante a vida. Todos os nossos movimentos são escrutinados ao pormenor, para que depois nos possam imitar. Faz parte do seu crescimento.

Que respeito estamos a mostrar pelo próximo com estas atitudes?

Que respeito estamos a mostrar pelo nosso filho, ao não lhe permitirmos fazer as coisas no seu próprio ritmo?

Certo dia estávamos com o L em casa de um familiar, ainda mal ele sabia gatinhar.

Uns primos foram-nos visitar, e também levaram o seu filhote, mais ou menos com a mesma idade. Mas, em comparação com o L, o rapaz já gatinhava que se fartava. Parecia um soldado na trincheira a fugir do inimigo, com o turbo ligado, se é que me faço entender!

Claro, houve logo motivos para comparações, sendo o gatinhar o principal deles.

O pai do rapaz, ao ver que o L quase nem gatinhava, teceu um comentário, a dizer que bastaria uma ajuda da nossa parte (para ser mais correcto, o termo utilizado foi “empurrão”) para o forçar a gatinhar.

 

respeito

 

Ou seja, apressar o desenvolvimento natural do L.

Impor a nossa vontade e o nosso ritmo às suas necessidades.

A minha menina disse-lhe simplesmente que também não se força uma borboleta a sair do casulo. Sai quando estiver pronta.

Hoje o L corre que se farta e aventura-se cada vez mais a fazer coisas novas.

Sabe que tem pais que respeitam as suas escolhas e a sua individualidade, e isso nota-se na sua forma de estar perante a vida.

Maria Montessori dizia que “as crianças são seres humanos a quem se deve o devido respeito, superior a nós pela razão da sua inocência e pelas grandes possibilidades do seu futuro”.

O respeito e confiança no desenvolvimento e nas capacidades do nosso filho mostraram-se cruciais para que o L seja um menino confiante, independente, e cada vez mais audaz.

É maravilhoso observar o seu crescimento.

Qual o teu ritmo?

Qual o ritmo que exiges dos outros?

 

Obrigado pela tua presença.

 

 

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Caixas de Permanência

O que são caixas de permanência?

São caixas muito conhecidas no meio Montessori, que servem para demonstrar que um objecto existe, mesmo que não se veja. Ajuda também a perceber a relação causa-efeito, já que têm um orifício para colocar um objecto, sendo que depois esse objecto desaparece momentaneamente. Pode ser preciso fazer alguma acção para fazer o objecto aparecer (abrir uma gaveta, por exemplo), ou então o objecto pode aparecer por si mesmo (deslizando através de uma rampa).

Aprendem assim a permanência dos objectos.

 

Quem me vem acompanhado há algum tempo, sabe que eu vou fazendo vários tipos de materiais Montessori à medida que o meu filho vai crescendo, de forma a ir acompanhando as suas necessidades e o seu desenvolvimento.

 

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Um desses materiais foi a caixa de permanência. Aliás, fiz duas diferentes.

A primeira delas é uma caixa de permanência com uma bola e uma rampa (visível na imagem acima).

Esta caixa é apresentada ao bebé quando já se consegue sentar sozinho, entre os 8-12 meses. O objectivo é ajudar a criança a desenvolver a percepção da permanência do objecto. Também ajuda indirectamente no foco e na concentração, bem como a coordenação mão-olhos. E, claro, a praticar a motricidade fina através do agarrar da bola.

O bebé agarra a bola e coloca-a no buraco, vendo-a desaparecer. Depois aparece novamente, caindo pela rampa para o tabuleiro, convidando-o a repetir o processo.

E se eles adoram repetições…

A expectativa era enorme, quando apresentei esta caixa ao meu filho. Investiguei, vi vários vídeos e li algumas documentações de como se deveria apresentar este material: o não falar, fazer os gestos muito devagar, estar entre o objecto e o bebé, etc.

Claro que assim que demonstrei a primeira vez, ele quis logo começar a fazer sozinho.

E, confesso, não teve grandes dificuldades em consegui-lo. Aliás, para ser muito sincero, acho que não ligou muito a esta caixa de permanência. Parecia que era muito fácil para ele. Talvez a tenhamos apresentado um pouco tarde, não faço ideia.

Acho que todos os bebés têm a sua preferência por determinados objectos e materiais, e este se calhar não foi um dos preferidos do L, apesar de apelativo.

Depois, optei por fazer outra caixa de permanência com uma gaveta e com várias moedas.

Caixas de permanência
Caixa de Permanência com gaveta e moedas

Este tipo de caixa já oferece novos desafios, porque ajuda a praticar os movimentos precisos das mãos enquanto envia informação para o cérebro, bem como o desenvolvimento do controlo das mãos, pulsos e dedos. Além de treinar a motricidade fina, permite também que a criança treine o rodar do pulso para colocar os objectos na caixa e para abrir a gaveta.

Desta forma, o bebé é obrigado a interagir mais com a caixa.

Esta caixa deve ser apresentada depois da caixa de permanência com tabuleiro, precisamente pelo grau de dificuldade acrescido, e por necessitar de competências adquiridas no manuseio da primeira caixa.

Claro, fiz várias moedas, porque algumas poderiam perder-se.

Confesso que também gostei muito do aspecto geral desta caixa, tem um ar muito apelativo, e existe qualquer coisa de sensual nas formas arredondadas.

caixas permanência
O movimento da rotação do pulso é uma das competências adquiridas para trabalhar com esta caixa

 

O L já se entreteve mais tempo com esta caixa, e se gostou de colocar as moedas na gaveta e abri-la!

Muitas vezes ficava frustrado porque, quando abria a gaveta toda, depois já não conseguia voltar a colocá-la para fechá-la, mas foi mais outra competência que foi adquirindo com o tempo.

 

Antes de começar qualquer projecto, é necessário fundamentar a ideia e passá-la para o papel, por mais rudimentar que seja o esboço. É interessante que, ao fazer isso, pormenores que outrora estavam escondidos, vão sendo revelados sob a forma do lápis de carvão.

Que medida terá que ter o tabuleiro? Qual a largura do buraco por onde a bola passa?

Estas e outras perguntas vão sendo respondidas no papel.

 

caixas de permanência
Esboço da primeira caixa de permanência

 

Com estas caixas de permanência, decidi fugir um pouco da linha tradicional das outras caixas que já existem no mercado.

Apresentei pormenores visuais mais apelativos, e que promovem um pouco mais a sua interação. Claro que mantive as suas funcionalidades intactas, e respeitei os objectivo principais dos respectivos materiais.

Optei por usar formas mais arredondadas, para que as caixas tenham um aspecto mais fluido, e que seja o mais suave possível para as mãos dos bebés.

Apesar de ter respeitado as cores tradicionais que se vêm nas outras caixas de permanência do mesmo género, usei cores transparentes ao invés de usar cores opacas, sobressaindo os veios da madeira.

Penso que desta forma fica muito mais apelativo e interessante de se ver, já que se vê realmente que é madeira, e… até que fica sexy, não achas?!

O aspecto visual também conta, e, como se costuma dizer, os olhos também comem.

E os bebés também sabem apreciar arte, gostam de ver objectos bonitos, bem construídos. E são muito honestos, porque quando não gostam de algo, não gostam mesmo e não têm problemas em demonstrá-lo.

Claro que os acabamentos que usei não podiam deixar de respeitar a saúde dos bebés e do meio-ambiente.

É um factor que levo muito a sério e que tento implementar ao máximo.

Principalmente nesta época em que vivemos, em que existem muitos casos de alergias e sintomas de doenças com causas desconhecidas.

Já para não falar do problema do aquecimento global, que já se vem a falar desde há muitos anos, e em que estamos quase a chegar a um ponto de não retorno…

Todos os passos, por mais pequenos que sejam, que nos conduzam à promoção do respeito pelo meio-ambiente e pela nossa saúde, são bem-vindos.

E todos juntos, podemos fazer a diferença.

Por isso, os acabamentos são certificados pela Norma Europeia de Segurança para Brinquedos, a EN71-3.

 

Artigo relacionado: Segurança nos Brinquedos – EN 71 e COVs

 

Uma última nota que gostaria de deixar é que estes materiais não são brinquedos, são materiais pedagógicos.

Deve-se saber qual a sua verdadeira utilidade, quando e como devem ser apresentados.

 

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Ah! E não existe uma idade certa para apresentar estes materiais. A idade certa é quando perceberes que o teu bebé está pronto para interagir como novos materiais. Como sabes isso? Observando-o.

Já conhecias este tipo de materiais pedagógicos?

Já usaste algum?

 

Obrigado pela tua presença.

 

 

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Pequenas conquistas

As pequenas conquistas são feitas através de pequenos gestos.

Pequenas intenções de querer fazer algo que ainda não sabemos como fazer, mas que queremos e precisamos, porque o nosso corpo assim o pede.

“Ensina-me a fazer sozinho”, poderá ser uma das frases mais emblemáticas de Maria Montessori.

Explica, muito sucintamente, a necessidade imperativa que os bebés e as crianças têm de serem autónomos desde muito cedo.

Enquanto adultos, não é fácil compreender o que se passa nas suas mentes.

 

Artigo relacionado: Os terríveis dois anos! E agora??

 

Para quem não conhece, e muito resumidamente, Maria Montessori nasceu em 1870, e foi a primeira médica italiana. Como se pode imaginar, nessa época as mulheres não tinham os direitos que hoje têm.

Sofriam de um estatuto inferior ao dos homens.

Era sempre acompanhada pelo seu pai às aulas na universidade porque não era bem visto uma mulher andar sozinha na rua. Nas aulas práticas, em que era necessário o professor demonstrar algo numa mesa, ela ficava sempre atrás dos homens, raramente conseguindo ver alguma coisa. Nas aulas teóricas, o seu lugar era sempre na última fila.

Mas isso não a desmoralizou, e concluiu o curso com distinção.

Ofereceram-lhe depois trabalhos que ninguém queria fazer (ou pelos quais não haviam interesse), como por exemplo visitar as alas psiquiátricas de asilos. Reparou então que as crianças que ali estavam não tinham as mínimas condições humanas para viverem dignamente. Eram crianças com necessidades especiais e desfavorecidas, que viviam em condições menos boas. Eram consideradas mentalmente atrasadas porque não sabiam ler nem escrever.

Maria Montessori interessou-se por estas crianças, observou-as e estudou-as, proporcionando-lhe condições (fundou o primeiro espaço para estes alunos, a Casa dei Bambini) para que pudessem desenvolver as suas capacidades motoras, e não só.

Em conjunto com os artesãos e marceneiros da época, desenvolveu materiais de aprendizagem específicos que foram utilizados pelas crianças, para desenvolverem as suas competências.

 

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Em pouco tempo, estas crianças aprenderam a ler e escrever, ficando aptas a fazerem os exames nacionais da época. Não só os fizeram, como passaram com mérito!

Tornou-se assim uma importante pedagoga, ao desenvolver um método de ensino que respeita a individualidade de cada criança.

Maria Montessori dedicou-se a esta causa até à sua morte, criando inúmeras escolas em diversos países, para continuarem o seu legado.

Este foi o início do método pedagógico de ensino Montessori, que ainda hoje perdura no mundo inteiro e que está em crescendo no nosso país.

É muito gratificante poder acompanhar as primeiras conquistas do L desde o seu nascimento.

 

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Antes de ele nascer, já estávamos relativamente familiarizados com o método pedagógico de Maria Montessori. Estabelecemos que iríamos seguir o melhor que conseguíssemos os princípios aí definidos. Mas seguindo sempre a nossa intuição, o desenvolvimento e as necessidades do nosso bebé.

Desde muito cedo que o L demonstrou resiliência em querer fazer as coisas bem feitas, não desistindo enquanto não as conseguia fazer. Um desses momentos é o momento em que ele tenta encaixar o cilindro de pinça (feito por mim) no orifício.

Ficou cerca de dois minutos a tentar fazer esse movimento, treinando e encaixando diversas vezes! Quanta paciência e persistência num ser tão pequenino!

 

 

É fascinante presenciar estes momentos, especialmente quando ele se autocorrige na pega do cilindro. Imagino que seja uma actividade que possa ser frustrante para um bebé, porque ainda não tem as capacidades motoras suficientemente desenvolvidas para que possa efectuar com sucesso estes movimentos.

Ainda hoje, com os seus quase 3 anos, podemos ter a bênção de presenciar as suas conquistas. Por vezes diz que não consegue, quando está com sono e não paciência, o que é perfeitamente normal. Até nós, adultos, ficamos sem paciência quando estamos com sono.

Mas com um pouco de incentivo e autoconfiança, lá consegue fazer as coisas sozinho e fica todo contente, com um sorriso de orelha a orelha: “O L consegue!”.

Um desses momentos é quando ele quer calçar as suas pantufas e vem sempre ter connosco para o ajudarmos. Começamos-lhe a dizer que consegue e ele por vezes tenta, outras vezes não lhe apetece. Quando tenta sozinho, acaba por nem sempre conseguir.

Mas com um pouco de reforço positivo da nossa parte e o querer e a persistência do lado dele, muitas das vezes acaba por conseguir calçá-las,

E lá fica ele todo feliz.

E claro, o tirar os sapatos está a ser outra das conquistas, porque nem sempre é fácil perceber que primeiro é necessário tirar o calcanhar, para depois tirar o resto do pé do sapato… mas ele lá se desenrasca, embora nem sempre.

Quando eu calço os meus ténis, ele até já me diz como é que devo atar os atacadores e finge ajudar-me (claro, à sua maneira)!

Outro dos exemplos é quando o visto de manhã.

Ele gosta sempre de dar o jeito final de puxar as calças para cima, e já ajuda a agarrar a manga do body com as mãos quando veste a camisola por cima (para depois a manga do body não fugir e não termos que ir andar à pesca…).

Esta fase das frustrações e pequenas conquistas pode fazer parte também dos chamados terríveis dois anos, mas penso que é um período muito importante para eles.

Uma boa dose de paciência e reforço positivo revela-se essencial para desenvolverem a sua independência e autoconfiança.

Sempre que o vejo frustrado ao não conseguir fazer alguma coisa, não interfiro logo.

Espero um pouco e observo o desenrolar da situação. Porventura acabo por perguntar se posso ajudar, e deixo-o tomar a decisão. Umas vezes aceita, outras vezes não. Mas pelo menos sabe que tem o apoio de um adulto, se precisar.

Lembro-me muitas vezes de outra frase emblemática de Maria Montessori: “Nunca ajude uma criança a fazer algo que sabe que consegue fazer sozinha”.

É através da frustração que a determinação ganha outro significado, e as pequenas conquistas são feitas, rumo à independência.

E como é fascinante presenciar estas conquistas…

Como é a tua interacção com os nossos pequenos mestres?

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Obrigado pela tua presença.

 

 

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